Numa sala escura, iluminada pelos poucos raios de sol que restara do dia, a mulher estava com os olhos maiores do que o normal e olhando para os lados, evitando o que estava a sua frente. Uma mão segurava a outra, na tentativa de esconder o tremor que por ali parecia começar, passando por todo o corpo e como numa explosão até a sua ultima parada, o coração.
Sentada em uma cadeira, que poderia ser confortável em outras situações, mas não naquela, estava ela, dura, em frente a um espelho que por muito tempo havia evitado, tapando-o com lençóis brancos enormes que sempre faziam questão de lembrá-la que estavam ali por uma só causa, o medo do que veria nos traços do seu rosto e o que esse tempo que passara sem se ver, fizera com a menina que já não mais existia.
Mas ela precisava saber.
Sabia desde o principio que esse dia chegaria, se não já o teria quebrado em milhares de pedaços, talvez não o fez porque saberia que nem em uma vida inteira conseguiria limpar os cacos que continuariam espetando seus pés, incomodando.
Tomou ar e foi.
Com os olhos cerrados virou-se para frente determinada e os abriu. Os ombros foram baixando aliviados, a sua expressão era doce mas um tanto preocupada, estava muito diferente.
Depois de um tempo sentada, tentando se acostumar com sua linhas, a mulher foi chegando mais perto com certa curiosidade de descobrir o que tinha perdido todo esse tempo.
Um sorriso lhe escapou do rosto. Era o mesmo sorriso.
Pouco a pouco foi percebendo que não mudara tanto, que o passado não estava só no espelho e sim em cada gesto que ela fazia, no jeito de andar e no acentuado da sua voz. Estava convencida de que não havia traído seu passado, já conseguia encará-lo sem pedir desculpas, pelo contrario, com a voz baixinha lhe dizia:
- Obrigada, obrigada, obrigada...
Já saiam os primeiros raios do dia. Juntou os lençóis, abriu as janelas e o vento frio e úmido da manhã a lembrou da menina, da mulher que agora ela faria questão de sempre ser.
Karla Brito
Sentada em uma cadeira, que poderia ser confortável em outras situações, mas não naquela, estava ela, dura, em frente a um espelho que por muito tempo havia evitado, tapando-o com lençóis brancos enormes que sempre faziam questão de lembrá-la que estavam ali por uma só causa, o medo do que veria nos traços do seu rosto e o que esse tempo que passara sem se ver, fizera com a menina que já não mais existia.
Mas ela precisava saber.
Sabia desde o principio que esse dia chegaria, se não já o teria quebrado em milhares de pedaços, talvez não o fez porque saberia que nem em uma vida inteira conseguiria limpar os cacos que continuariam espetando seus pés, incomodando.
Tomou ar e foi.
Com os olhos cerrados virou-se para frente determinada e os abriu. Os ombros foram baixando aliviados, a sua expressão era doce mas um tanto preocupada, estava muito diferente.
Depois de um tempo sentada, tentando se acostumar com sua linhas, a mulher foi chegando mais perto com certa curiosidade de descobrir o que tinha perdido todo esse tempo.
Um sorriso lhe escapou do rosto. Era o mesmo sorriso.
Pouco a pouco foi percebendo que não mudara tanto, que o passado não estava só no espelho e sim em cada gesto que ela fazia, no jeito de andar e no acentuado da sua voz. Estava convencida de que não havia traído seu passado, já conseguia encará-lo sem pedir desculpas, pelo contrario, com a voz baixinha lhe dizia:
- Obrigada, obrigada, obrigada...
Já saiam os primeiros raios do dia. Juntou os lençóis, abriu as janelas e o vento frio e úmido da manhã a lembrou da menina, da mulher que agora ela faria questão de sempre ser.
Karla Brito