sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Pode rir.

Não. É isso mesmo! A felicidade é uma utopia. E eu discordava perante tanta obviedade, mas agora, apesar de ainda feliz, sinto alguns sentimentos contrários me rondando sem me tocar. No meu pensamento visionário é fácil perceber a minha fragilidade, tentem tirar o mínimo da minha total felicidade e eu entristeço pesadamente. Não sei lidar com a dor porque nunca me doeu de verdade, por isso peço amedrontada para não chegar essa hora que a minha felicidade desconhece.

Acho que os infelizes ao verem os felizes tal como eles, são mais felizes.

Talvez toda a graça tenha prazo, talvez o dono do jogo queira mesmo que os felizes pensem que a felicidade os pertençe, só mesmo pra depois colocar o indicador pra frente, balaçar de um lado pro outro e dar um meio sorriso feliz.

E se eu disser "Eu acredito que felicidade plena não existe por aqui na terra" vocês me permitiriam tê-la? Tá! Tá bom, eu sei que não vão fazer isso, mas então o que eu devo fazer? Continuar sendo feliz até quando puder ou ficando cada dia mais infeliz pra ir me acostumando com a bomba que deve estar chegando? Porque só pode ser parente de Hiroshima, porque o tanto de felicidade que eu já gastei... Deveria ter sido menos feliz.

Acho que os infelizes ao verem os felizes tal como eles, são mais felizes. Então pode rir, pode ri, pode rir...

Karla Brito

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Homogêneo


Duas pessoas no singular.
Dois em um.
Um em dois.
E assim, eu passo a ser nós.


KarlaBrito

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Segura

Um nó me vem à garganta quase me sufocando. prendendo as palavras num esforço imenso de contra corrente. e depois me vêem umas poucas lagrimas que também não sabem se são para serem choradas ou seguradas, já que nem sabem o porquê de estarem ali, se ainda nada foi dito, sentido, gritado, expulso, invadido.

Maior do que o medo de dizer é o medo de não poder dizer.

O cenário e os personagens pararam no tempo sem essa informação, a minha informação. Tudo congelado e seguro! Congelando os meus, à mim, faltando ar em um cubo de gelo do tamanho do meu passado.

Já me segurei o suficiente para estar segura em me soltar.


Karla Brito

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Não me entendam

No dia que vocês, os sem amor, me entenderem, eu vou estar perdida!
Nunca soube lidar bem com vocês e pra falar a verdade nunca fiz questão, sem querer ofender, é claro. Mas se vocês não tiverem nada contra mim, eu vou supor que encontraram por aí alguma explicação cientifica ou alguma teoria que saiu em um livro dizendo como me entender... e eu não aceitaria isso já que eu não acredito em nenhuma resposta lógica para o que eu sou.

Por isso não me entendam.

A vida do lado de cá, dos com amor, me ensina cada vez mais a entender coisas abstratas e invisíveis, que me fazem chorar por senti-las tão reais. Tão reais que eu não consigo ver o que é a realidade pra vocês. É daí que nasce o medo de vocês um dia se proporem a me entender, porque eu não sei se vou ser capaz de entendê-los também.

Aliviem a minha culpa, não me entendam.


KarlaBrito

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Eu gosto de alface

Ver todos esses palhaços diariamente, com suas bocas grandes - vermelhas - sorridentes, caras pálidas e olhos arregalados, sempre querendo rir de alguma coisa que não sejam suas próprias vidas, procurando motivo de espanto e piada, me entontece e me embrulha o estomago.

Na verdade ninguém gosta de palhaços. Alguns dizem isso sem medo, mas todo o resto finge gostar. Assim! tão fácil como fingir que gosta de alface.

Cada um tem seu medo especifico, mas o meu é o de não ser ouvida. Que todas as gargalhadas tapem até o meu grito. No meu pior pesadelo eu estou cercada de palhaços e eles começam a rir e a se aproximar de mim. À medida que eles se aproximam eu começo a encolher e gritar o mais alto que eu posso, quando eu estou na altura de seus joelhos nem eu mesma consigo mais ouvir minha voz, é quando eu me transformo em um deles.

Palhaços têm bocas grandes e cabeças pequenas. Eu não quero ser palhaço.

bjo

Karla Brito

terça-feira, 2 de março de 2010

Ainda vale dizer?

Só agora que ano começou de verdade que eu parei para lembrar das imagens que vêem como fotos que dificilmente alguém um dia poderá capturar... das palavras que fazem querer abraçar, da vontade de estar, da cor da nossa alma ao ver a cor do céu de 1 de janeiro, aliás, naquele momento eu achei que o nome da cidade poderia mudar facilmente de Rio para Céu de Janeiro e acho que não fui a única em meio daqueles rostos abobalhados por uma coisa tão comum como o nascer de mais um dia... talvez porque não fosse só mais um dia.
Foi um ano inteiro se mostrando.

FELIZ ANO NOVO!

KarlaBrito

domingo, 28 de fevereiro de 2010

A Menina e a Mulher

Numa sala escura, iluminada pelos poucos raios de sol que restara do dia, a mulher estava com os olhos maiores do que o normal e olhando para os lados, evitando o que estava a sua frente. Uma mão segurava a outra, na tentativa de esconder o tremor que por ali parecia começar, passando por todo o corpo e como numa explosão até a sua ultima parada, o coração.

Sentada em uma cadeira, que poderia ser confortável em outras situações, mas não naquela, estava ela, dura, em frente a um espelho que por muito tempo havia evitado, tapando-o com lençóis brancos enormes que sempre faziam questão de lembrá-la que estavam ali por uma só causa, o medo do que veria nos traços do seu rosto e o que esse tempo que passara sem se ver, fizera com a menina que já não mais existia.

Mas ela precisava saber.

Sabia desde o principio que esse dia chegaria, se não já o teria quebrado em milhares de pedaços, talvez não o fez porque saberia que nem em uma vida inteira conseguiria limpar os cacos que continuariam espetando seus pés, incomodando.

Tomou ar e foi.

Com os olhos cerrados virou-se para frente determinada e os abriu. Os ombros foram baixando aliviados, a sua expressão era doce mas um tanto preocupada, estava muito diferente.
Depois de um tempo sentada, tentando se acostumar com sua linhas, a mulher foi chegando mais perto com certa curiosidade de descobrir o que tinha perdido todo esse tempo.

Um sorriso lhe escapou do rosto. Era o mesmo sorriso.

Pouco a pouco foi percebendo que não mudara tanto, que o passado não estava só no espelho e sim em cada gesto que ela fazia, no jeito de andar e no acentuado da sua voz. Estava convencida de que não havia traído seu passado, já conseguia encará-lo sem pedir desculpas, pelo contrario, com a voz baixinha lhe dizia:
- Obrigada, obrigada, obrigada...
Já saiam os primeiros raios do dia. Juntou os lençóis, abriu as janelas e o vento frio e úmido da manhã a lembrou da menina, da mulher que agora ela faria questão de sempre ser.


Karla Brito