segunda-feira, 27 de abril de 2009

Enquanto ela lia

O livro se abriu e logo nas primeiras páginas ela já tinha se transportado para fora do quarto, que apesar de ter sido sempre colorido, se enchia de cores mais fortes e vibrantes e quando ela viu, estava dentro da história.
Apesar da surpresa da menina em se ver num mundo completamente diferente, ela não se assustou, não estranhou nem questionou, mas sentiu o ar puro e tocou as plantas que davam bom dia a ela. Lá havia nuvens de algodão, pássaros de papel e estrada que brilhava com a luz do sol que tinha um sorriso quase materno.
Ela andou por entre as ruas cantarolando, sorrindo e saltitando de tanta felicidade que sentia. Porem algumas formigas feitas de sementes de melancia a avisou que a sua presença naquelas terras não seria fácil, porque ninguém achava que alguém poderia ser feliz num mundo onde arvores são de tinta e macacos são de macarrão.
Na sua cabeça não cabia a idéia de que as pessoas vissem somente esse lado, o da forma. Importava-lhe muito mais o “como” do que o “o que” e não entendia porque as pessoas não viam o que para ela era tão obvio. O macaco era o seu melhor amigo, falava-lhe coisas sabias mas era triste por ser visto somente como um monte de massa, mas ela, a menina, o via como a pessoa mais incrível que ela jamais conheceu.
E então pensou em alguma solução para estar dentro daquele livro a qualquer hora que quisesse.
Lutar lhe parecia uma atitude pouco inteligente, por ser só mais um personagem de um livro da biblioteca, esconder-se parecia uma idéia muito triste, já que a liberdade é o ar que a felicidade respira.
Ela chegou a pensar que não existia saída, de todas as formas iriam segui-la e um dia a capturariam.
Então ela decidiu que iria colorir o quanto pudesse, que iria amar cada ser daquela floresta, que não ia se esconder, nem lutar e talvez alguma mágica tão grandiosa quanto a que a fez estar naquele livro, acontecesse.
E o livro ficou aberto no quarto de cores desbotadas.

bjo
Karla Brito

quinta-feira, 16 de abril de 2009

All the single ladies

E nesse fim de tarde perfumado, eu não estou correndo de ensaio para ensaio, nem telefonando para mil e trezentas pessoas, nem cantando e nem estudando, só me preocupando em qual será a melhor maneira de dizer pra minha mãe que eu vou viajar no final de semana sem que ela pire.
Não que eu não tenha com o que me preocupar, preciso me dedicar mais aos ensaios e mesmo telefonando para mil e trezentas pessoas, ainda não é o suficiente para eu me sentir útil e produtiva, preciso aprender minhas musicas e eu estou me afundando em faltas e notas na faculdade. Porem, todavia, contudo, eu decidi dar prioridade a mim, ao menos hoje e quem sabe isso se estenda até esse final de semana.
bjo
Karla Brito

terça-feira, 14 de abril de 2009

Velha infância

Entre um filme, uma conversa despretensiosa com meu pai e um climinha de chuva, eu dormia. Podia sentir preguiça (sem culpa) e ficar o dia inteiro em casa que ninguém iria me ligar querendo saber o porque do meu sumiço. Estava em Quixeré, isso bastava.
Por causa dessa minha preguiça diurna, ontem eu não consegui dormir a noite. Li um texto sobre teatro que tinha levado sem muita pretensão de ler e quando já estava entediada, vi uma foto minha com o meu pai num porta-retrato, que certamente já tinha visto, mas que nunca tinha parado para pensar o quanto eu tinha mudado daquela foto até agora.
Na foto, era natal, eu deveria ter meus 12 anos e eu ainda morava em Quixeré. Eu comecei a imaginar quais eram os meus conflitos da época, o que era a coisa mais importante na minha vida naquele dia, mas principalmente se eu sentiria orgulho de ser quem eu sou hoje.
Olhei cada detalhe, meus olhos, meus dentes, meu cabelo, minha bochecha, meu peito, o jeito que estava abraçando o meu pai...
Aquela foto me respondeu muitas perguntas que estavam me consumindo por eu ter esquecido quem eu era, ter esquecido a minha historia, que é linda e cheia de pessoas especiais que ainda por cima me amam. Tinha esquecido que para algumas pessoas, a minha vida é a vida delas. Me senti importante e cuidada. Such a feeling!
Me fiz bastante perguntas, chorei, senti saudades de ser criança... e fui dormir sabendo que mesmo tendo mudado tanto, ainda era aquela menina da foto, cheia de sonhos e com uma vontade imensa de ser feliz.

E então pude responder a minha pergunta principal.


bjo
Karla Brito