Dentro de uma espécie porão, como se fosse um grande cano de
ferro de baixo da terra, escuro, sujo, cinza e comprido eu me contentava com o
pouco do brilho do sol que saia por uma das três frechas redondas do teto, que dava
direto pro jardim. Não sentia vontade de sair porque lá tinha uma rede bem no
fundo e dentro dela eu te tinha.
Eu que sempre gostei da luz estourada, das cores batendo no
vento, do fresco, do horizonte estava embaixo de tudo isso por minha própria
opção e como não havia nada além dessa rede e você, também
não havia espelho pra eu perceber que estava ficando igual aquele lugar sem graça e sem sentido.
Vi uma pessoa passando por uma das frechas de cima, era o
jardineiro que sem querer deixou cair umas folhas secas no buraco, eu me
surpreendi com o brilho que batia nas folhas enquanto caiam e imediatamente
levantei da rede, saí pela porta grande de ferro que ficava na outra ponta do
vão e ainda pela escada que dava acesso ao jardim gritei: “Moço, você pode
jogar mais dessas folhas aqui no segundo bueiro? Por favoorrr” e assim ele o fez
prestativo. E enquanto eu dançava no meio da chuva de folhas secas você
sorria, me aplaudia e eu esquecia do que existia.